04/10/2009

LA NEGRA SE FUE...

A primeira notícia deste domingo foi da morte da cantora argentina Mercedes Sosa... ela já não estava bem de saúde há um tempo, embora insistisse em continuar cantando. Ícone inconteste da música latino-americana, tornou-se porta voz de uma geração inconformada e expoente da "Nueva Canción", movimento musical dos anos 60, com raízes cubanas, africanas, andinas e espanholas, que deu o tom às canções de protesto, contra as desigualdades sociais e liberdades vigiadas.

La Negra, como era conhecida, foi uma militante ativa, durante os pesados anos da mais sangrenta de nossas ditaduras, a argentina, que perdurou de 1976 a 1983. Afirmou-se comunista até o fim, e suas letras foram o testemunho vivo da história de luta pela liberdade, contra os regimes totalitários na América Latina.
Em 1979 em um show em La Plata foram presos Mercedes, os músicos e o público, inciando um período de perseguição que a levou ao exílio em Madri nos anos seguintes.

Contava um querido professor uruguaio, que no show do Gigantinho em Porto Alegre, nos anos 80 - quando uma bomba de efeito moral foi detonada, ameaçando a não continuação do espetáculo - que as luzes do ginásio foram acesas, como uma forma de repreender a apresentação, e que tal ação acabara tendo efeito contrário, ao assumir o comando, La Negra disse que aquilo era ótimo pois assim se poderia identificar a "los ratos" mais claramente, referindo-se aos agentes infiltrados na platéia, e em seguida acalmou o público conduzindo-os em um coro entusiasmado e muito emocionado.

Eternizou "Gracias a La Vida" de Violeta Parra, e " sua voz iluminou alguns dos tempos mais escuros que a América Latina já experimentou", como bem colocou um jornalista da Zero Hora. Mas pra mim, a música que mais marcou, foi "Solo le pido a Dios," uma canção que sempre me remeteu a uma série e imagens, manifestações e um grande nó na garganta, e que agora ao procurar por ela no You tube, encontrei esse vídeo que traduz muito bem tudo o que o nosso mundo vem passando de meados dos anos 1970 pra cá.



Solo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacia y sola sin haber hecho lo suficiente.

Solo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Despues que una garra me araño esta suerte.

Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.

Solo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede mas que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden facilmente.

Solo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado esta el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente.

Solo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.



3 comentários:

  1. Eu estava nesse show em Porto Alegre e é uma das recordações mais emocionantes daqueles tempos. la Negra era majestosa em um palco. Parecia ao mesmo tempo uma guerreira e uma mãe amorosa. Vai fazer falta. Muita.

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  2. Ela merece todas as homenagens!

    A sua força, a sua luta, o seu exemplo, a sua voz...perdurarão!

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  3. Merecedora de todas as homenagens!

    A sua força, a sua luta pelos direitos humanos, o seu exemplo e a sua voz...perdurarão!

    Obrigada!

    Abraço

    ResponderExcluir

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