04/07/2011

Acervo reúne visões sobre a Ditadura Argentina

MEMÓRIA ABIERTA
  
A ONG Memória Aberta, que coordena desde 1999 a ação de cinco organizações de direitos humanos, apresentou semana passada o projeto A Ditadura no Cinema: catálogo de filmes sobre a última ditadura, o terrorismo de estado e a transição democrática na Argentina.
  

Cena do drama 'Garage Olimpo' (Foto: Divulgação)

Catálogo La Dictadura en el Cine 
torna acessível informações sobre mais de 450 filmes 
que abordam o período militar do país

DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM MONTEVIDÉU 

Os laços invisíveis -ou nem tanto- que unem gêneros e temáticas tão diversos, como um documentário sobre futebol e uma ficção sobre uma criança que brinca em ser astronauta, são a base do catálogo on-line La Dictadura en el Cine.

Trata-se de um arquivo eletrônico lançado recentemente pela organização argentina Memoria Abierta e que tem por objetivo resgatar imagens, pensamentos e histórias fomentados pela ditadura do país em filmes.

É o caso de obras consagradas -caso de "Kamchatka" (2002), sobre o menino que enfrenta um redemoinho de forma lúdica- e outras apagadas por motivos políticos ou pelo tempo, como o documentário "Fútbol Argentino" (1990).

"O cinema é uma linguagem e um veículo de transmissão privilegiado porque recolhe elementos do trauma pessoal e social, do drama institucional e político que passam então a formar conteúdos da memória e da cultura coletiva de uma sociedade", afirma à Folha Patricia Tappatá de Valdez, diretora de Memoria Abierta.

"Os argentinos, para explicarmos a nós mesmos o que aconteceu, baseamos uma parte de nosso conhecimento dos fatos nesses filmes em que o material de época, a alegoria e a ficção se misturam, e assim nos oferecem perspectivas, versões e representações desse passado."

RARIDADES
O catálogo (http://www.memoriaabierta.org.ar/ladictaduraenelcine) traz alguns achados , como "Estoy Herido, Ataque!" (1977), que se considerava perdido para sempre, e "Murallas de la Libertad" (1978), nunca apresentado na Argentina.

O acervo, que levou um ano e meio para ser sistematizado, reúne e torna acessível ao público informações sobre mais de 450 filmes, rodados entre 1976 e 2011, que tocam direta ou indiretamente nos anos de chumbo da Argentina (1976-1983).

Desse total, 300 obras estão disponíveis em cópias para que sejam vistas na sede da organização, em Buenos Aires.
"É uma cifra altíssima, sobretudo se você levar em conta que, entre os filmes que nos faltam, há muitos que são simplesmente impossíveis de encontrar, realmente. Um arquivo como esse é inédito", comenta Liora Gomel, porta-voz da entidade.

As obras do acervo estão organizadas segundo um índice alfabético, outro cronológico e um terceiro, temático, em que se intercalam subgrupos das narrativas que abordam, como: "Crianças Roubadas", "Guerra das Malvinas" ou "Igreja Católica", Compromisso Social e Cumplicidades", entre vários outros enfoques.

Fundada há uma década, Memoria Abierta é um coletivo de entidades -como Mães da Praça de Maio e Fundação Memória Histórica e Social Argentina- que trabalham em prol da preservação da memória dos anos em que o país esteve mergulhado em um regime militar.

Fonte: Folha de São Paulo (02/07/2011)

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