09/02/2011

Samir Amin e a "revolução" no Egito

Reproduzo artigo do intelectual egípcio Samir Amin, publicado originalmente no blog de Atilio Boron:

O Egito é a pedra angular do plano norte-americano para controlar o planeta. Washington não vai tolerar nenhuma tentativa do Egito de acabar com a sua total submissão aos interesses imperiais, coisa que Israel também necessita para prosseguir colonizando o que resta da Palestina.

Este é o objetivo excludente de Washington em seu “envolvimento” para impulsionar uma “transição suave” no Egito. Tendo em vista esta situação, os EUA poderiam considerar que Mubarak poderia renunciar e o recém designado vice-presidente, Omar Solaimám, chefe da Inteligência militar, ficaria em seu lugar. Mas o exército foi muito cuidadoso em não ficar preso à repressão, preservando a sua imagem.

Então, aparece Baradei. Ele, porém, é mais conhecido fora do que dentro do Egito, mas este defeito poderia ser corrigido rapidamente. Baradei é um “liberal”, sem idéias de como conduzir a economia e, por isto mesmo, não pode compreender que é precisamente por causa dela que ocorreu a atual devastação social. É um democrata, no sentido de querer “eleições genuínas” e em respeitar a lei (por exemplo: parar as prisões e as torturas), nada mais.

Não é impossível que Baradei possa ser um aliado na transição. Mas nem o exército, nem as agências de inteligência estão dispostos a abandonar a sua posição dominante que desfrutam perante a sociedade. Baradei aceitaria isto?

No caso de “êxito” e “eleições”, a Irmandade Muçulmana será a principal força parlamentar. Aparentemente, os EUA veriam com satisfação este resultado porque caracterizaram a IM como “moderada”, dócil, disposta a aceitar a submissão do país à estratégia norte-americana, deixando que Israel continue a ocupar a Palestina.

A IM também é a favor da economia de mercado, que torna o Egito um país totalmente dependente do exterior. Ela é, de fato, a principal sócia e aliada da burguesia “compradora”, considerada um feudo para o imperialismo. A IM foi contra as greves dos trabalhadores e contra as lutas dos camponeses pela propriedade da terra.

O Plano dos EUA para o Egito é semelhante ao modelo paquistanês: uma combinação de “Islã político” com a Inteligência militar. A IM poderia compensar seu apoio a estas políticas sendo, precisamente, “não-moderada” em sua conduta diante de outras religiões. Poderia um sistema desse tipo merecer um certificado de “democracia”?

O movimento atual tem como seus componentes fundamentais a juventude urbana, com estudos e diplomas, mas sem trabalho, apoiada por segmentos das classes médias educadas e democratas. O novo regime poderia, talvez, fazer algumas concessões. Por exemplo: garantir o recrutamento para servir em aparatos estatais, mas dificilmente mais do que isso.

Claro que as coisas poderiam mudar se a classe trabalhadora e os movimentos campesinos entrassem em cena. Mas tal coisa não parece estar na agenda. Na medida em que o sistema econômico for manejado de acordo com as regras da “globalização neoliberal”, nenhum dos problemas que deram origem ao atual movimento de protesto poderá ser realmente solucionado.

* Tradução de Sandra Luiz Alves


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