02/03/2009

"Ditabranda" ... fala sério ...

...
A Folha saúda a ditadura!

Publicado por Ceso Marcondes na Carta Capital 26/02

Já se passaram nove dias do editorial da Folha de S.Paulo que criou o termo “ditabranda” para caracterizar a ditadura militar que aterrorizou o País a partir de 1964. Mas a polêmica não morreu, apesar do Carnaval. Hoje mesmo, dia 26, os respeitabilíssimos professores Fábio Konder Comparato e Maria Victoria Benevides se insurgem na seção de cartas dos leitores do jornal. Ambos protestaram dia 20 passado no mesmo espaço diante da “criação” do editor do jornal. Agora, repudiam a resposta que obtiveram da Redação.

Para quem não viu, a Folha lhes respondeu simplesmente o seguinte: “Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa”.

Ou seja, o caldo entornou de vez. Se no Editorial do dia 17, o “ditabranda” apareceu de passagem, só “uma lembrança”, em um texto que criticava o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, naquela Nota da Redação, não só o jornal reiterou sua criação, como destratou duas das figuras mais respeitadas da universidade brasileira. São eles cínicos e mentirosos em sua indignação, disse a Folha, extrapolando todos os limites da boa conduta jornalística descritos em seu Manual de Redação.
Tão absurda quanta, foi a “exigência” do jornal: ficamos sabendo que passa a ser obrigatório condenar o regime cubano para ser autorizado a condenar o brasileiro daquela época. Vindo de quem apoiou abertamente o golpe de 64, dá para entender a “exigência”. O jornal já recebeu a contestação de muita gente, entre elas, de pelo menos três jornalistas da própria Folha: do ombudsman Carlos Eduardo Lins e Silva, de Fernando de Barros e Silva e Juca Kfouri. Agora, ganha audiência na internet o abaixo-assinado aqui reproduzido.

O leitor de CartaCapital pode deixar seu comentário neste espaço ou se manifestar através da petição online.“REPUDIO E SOLIDARIEDADE Ante a viva lembrança da dura e permanente violência desencadeada pelo regime militar de 1964, os abaixo-assinados manifestam seu mais firme e veemente repúdio a arbitraria e inverídica revisão histórica contida no editorial da Folha de S. Paulo do dia 17 de fevereiro de 2009. Ao denominar “ditabranda” o regime político vigente no Brasil de 1964 a 1985, a direção editorial do jornal insulta e avilta a memória dos muitos brasileiros e brasileiros que lutaram pela redemocratização dos país.

Perseguições, prisões iníquas, torturas, assassinatos, suicídios forjados e execuções sumárias foram crimes corriqueiramente praticados pela ditadura militar no período mais longo e sombrio da história política brasileira. O estelionato semântico manifesto pelo neologismo “ditabranda” e, a rigor, uma fraudulenta revisão histórica forjada por uma minoria que se beneficiou da suspensão das liberdades e direitos democráticos no pos-1964. Repudiamos, de forma igualmente firme e contundente, a Nota da Redação, publicada pelo jornal em 20 de fevereiro (p. 3) em resposta as cartas enviadas a Painel do Leitor pelos professores Maria Victoria de Mesquita Benevides e Fábio Konder Comparato.

Sem razões ou argumentos, a Folha de S. Paulo perpetrou ataques ignominiosos, arbitrários e irresponsáveis a atuação desses dois combativos acadêmicos e intelectuais brasileiros. Assim, vimos manifestar-lhes nosso irrestrito apoio e solidariedade ante as insólitas críticas pessoais e políticas contidas na infamante nota da direção editorial do jornal. Pela luta pertinaz e consequente em defesa dos direitos humanos, Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato merecem o reconhecimento e o respeito de todo o povo brasileiro.”
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A esta altura do campeonato, um dos jornais mais
respeitados do país,definir como "branda" a ditadura,
que mais do que sequelas deixou em nossa sociedade,
é acima de tudo irresponsável do ponto de vista jornalístico.

O períodico que além de "apoiar" as ações dos militares,
"dissimulava" informaçõese ainda por cima "emprestava"
suas peruas para transporte dos presos políticos
até o DOI-COD, no mínimo, deveria pesar suas
manifestações políticas, nesta esfera, nos dias de hoje.
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Trata-se de um desrespeito as vítimas,
aos seus familiares
e a história do nosso país!
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Matar, separar, torturar, desaparecer...
é um ato "brando"
...aonde?
e desde de quando?
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Para que não esqueças,
para que nunca mais aconteça:
Ato contra editorial da Folha ditabranda

Um comentário:

  1. Carta Capital é tudo de bom, pena que é um pouco cara....(mas tb né, os jornais independentes não tem apoio de ninguém prá fazer um bom jornalismo). Tá explicado o preço.
    Quanto a Folha....é uma segunda GLOBO só que impressa. Sempre foi assim.
    É uma pena que a maioria das pessoas leia este tipo de artigo sem filtrar nada, sem saber destinguir a matéria prá VENDER JORNAL do JORNALISMO SÉRIO.
    Às vezes dá vergonha da classe dos comunicadores...Quanta falta de ética!
    Valeu Grazi!

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