Quando a Fifa resolveu admitir e tomar para si a existência de um
Mundial de Clubes, houve aquela abertura ampla, geral e quase irrestrita
que só as entidades que precisam AZEITAR a máquina política em diversas
frentes sabem fazer. “Onde a Arena for mal, um time no Nacional”, já
dizia o nefasto lema. E passaram a frequentar as televisões brasileiras
nos finais de ano esquadrões vestindo camisas estranhas, com nomes
esdrúxulos e jogadores idem. Todos com alguma história, claro, mas quase
nunca uma história digna de ser registrada em ata.
O Mundial de 2012, como raros outros, soa em outro tom. Deixemos o
Corinthians e sua imensa e gloriosa história para outros que aqui
escrevem, como o Odil David, e vamos ao que alguém precisa dizer nessas
horas pré-jogo: o Al-Ahly faz um CLÁSSICO INTERNACIONAL com o Timão.
“Enlouqueceram”, dirão os leitores. Há muito tempo, responderemos nós. Mas, dessa vez, falamos sério. Vamos à VACA FRIA:
A história recente do Al-Ahly é de arrepiar os cabelos do defunto
mais indiferente. Nos últimos dois anos, a torcida do clube foi parte
FULCRAL do processo que levou à derrubada do ditador egípcio Hosni
Mubarak, parte das mais relevantes da dita Primavera Árabe. A hinchada
ahlynesca, os “Ultras Ahlawy”, protagonizava cenas como essa na Praça
Tahrir durante o inesquecível ano de 2011.
Mas a parte mais dramática da história do Al Ahly veio depois da
queda do canalha. Em Port Said, 74 torcedores foram massacrados no que
primeiro foi tratado como uma briga de torcida em uma partida contra o
Al-Masry. Pouco depois, soube-se que o ataque, ainda no estádio, foi
orquestrado por apoiadores do ex-ditador em retaliação à posição
política dos torcedores do time da capital.
“Isso não é futebol. Isso é uma guerra, e ninguém faz nada. As
pessoas estão morrendo na nossa frente, sem segurança, sem ambulâncias”,
disse Mohamed Aboutrika na ocasião da tragédia.
“Não tinha ninguém para nos proteger. Mas a culpa é nossa, pois fomos a
campo jogar a partida. As autoridades só pensam em dinheiro”, disse outro ídolo local, Mohamed Barakat.
Milhares foram receber os mortos e o restante da delegação na estação de trem do Cairo. Protestos se espalharam pela cidade.
Na ocasião, Mohamed Aboutrika, o maior ídolo do time, disse que abandonaria o futebol profissional. Aboutrika tem 34 anos e joga no Nacional – significado de Al-Ahly em
egípcio – desde 2004. Tem quase 400 jogos com a camisa do clube e mais
de 100 gols. Disputou todos os quatro mundiais da história do clube,
incluindo este e o de 2006, quando seu time deu um sufoco daqueles
no Internacional. É graduado em filosofia pela Universidade do Cairo.
Tomou outras atitudes políticas na sua carreira: em 2008, pela Copa
Africana das Nações, levantou uma camisa
em apoio à luta na Faixa de Gaza e levou cartão amarelo.
Mesmo após a
punição, não ficou calado: disse que estava preocupado com o sofrimento e
o cerco de Gaza e, principalmente, com as crianças que lá vivem.
Aboutrika tornou-se um ídolo na Palestina desde então, e comentaristas
árabes afirmaram que o cartão amarelo foi uma punição “honrosa”.
Depois do massacre de Port Saïd, a liga egípcia foi suspensa pela
Fifa por sete meses. O Egito jogou o torneio olímpico de futebol seis
meses depois, com Aboutrika entre os atletas, marcando inclusive um gol contra o Brasil.
Em setembro, porém, a Federação Egípcia retomou as atividades e agendou
a disputa da Supercopa local contra o ENPPI para o dia 9. O Al-Ahly
tinha muitas dificuldades em treinar, devido à hostilidade dos
apoiadores de Mubarak, e seus torcedores avisaram que não iriam à
partida em protesto contra a falta de atitude da Liga Egípcia em relação
ao massacre e ao fato de que ninguém foi punido pela morte dos 74.
Aboutrika uniu-se aos torcedores. “Eu não quero esquecer. As pessoas
que morreram na minha frente estão sempre na minha memória. Elas nos dão
uma enorme motivação para honrá-las e dar a elas tudo o que temos.”
Estava decidido a continuar sem jogar futebol profissional na Liga
enquanto não houvesse justiça.
Porém, pouco depois revogou a sua
auto-suspensão. “Nossa meta, a mais importante delas, é dar alegria ao
povo egípcio, principalmente às famílias daqueles que morreram. Queremos
levar-lhes um pouco de felicidade, qualquer uma. Um sorriso que seja”,
disse ele ao site da Fifa.
O campeonato egípcio nunca mais foi jogado desde o massacre. Mesmo
assim, o Al-Ahly foi campeão africano, jogando todas as suas partidas com torcida restrita. Na final o Al-Ahly venceu o Esperánce Túnis, na Tunísia, com o estádio pela metade por medo da violência. O Nacional egípcio venceu por 2-1 para sagrar-se campeão africano.
Assim, tomem nota: Corinthians x Al-Ahly é um clássico. Aliás, um BAITA clássico. Eis a verdade.
Repercutam.
Fonte: http://impedimento.org/2012/12/11/corinthians-x-al-ahly-um-classico-mundial/
Repercutam.
Fonte: http://impedimento.org/2012/12/11/corinthians-x-al-ahly-um-classico-mundial/
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