18/01/2010

HAITI

É hora de refletir!

São momentos como estes que nos fazem parar um pouco, e tentar compreender de uma maneira mais humana e global, o que esta acontecendo no mundo.


Momentos estes, que insistem em se repetir, e que com certeza se repetirão mais vezes, dado o constante movimento das placas tectônicas de nosso planeta e o já famigerado, embora controverso, aquecimento global. Fazendo com que tenhamos redes mais organizadas e formas mais eficazes de envio de todo o tipo de ajuda, que não a especificamente a militar.


Médicos, Estudantes, Voluntários e todo o tipo de profissionais sempre serão bem vindos em países e comunidades carentes, e é uma lástima que seja preciso uma tragédia destas para que o mundo volte seus olhos para o país mais pobre, da pobre América Latina, e inicie o envio de exércitos de salvamento.

Reproduzo abaixo um texto do Blog dos Pesquisadores da Unicamp no Haiti e seus relatos sobre a REAL situação do país, eles são estudantes, dentre eles o professor Omar Ribeiro Thomaz, especialista em Moçambique, e que se encontram no Haiti desde novembro de 2009.

Selecionei um dos relatos que mais me sacudiu, no geral são muito doloridos, mas creio que ele nos dá a dimensão daquilo que as estatísticas e mídia maçante não conseguem transmitir.

Haiti:

Estamos Abandonados

13 Janeiro 2010

A noite de ontem foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.

O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia.

O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?

A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.

Hoje, dia 13 de janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?

Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros.

Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.

A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia – o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.

A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel – resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.

Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem.

Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.

Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.

Por Otávio Calegari Jorge


Blog dos Pesquisadores da Unicamp:http://lacitadelle.wordpress.com/

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